terça-feira, 28 de julho de 2015

Um trecho do meu livro O Outro Lado do Muro





Meu Lado
(do lado de cá)

Estava impaciente!
A mudança ainda nem tinha sido desfeita, quase toda embalada em caixas espalhadas. Umas abertas denunciavam a procura de um objeto qualquer. E eu perdida no meio da confusão, parada olhando a tela do notebook...
Ainda não compreendia o que havia acontecido conosco...
Depois de anos de convivência, a separação. E agora essa mensagem inesperada marcando um encontro apressado para daqui a pouco!
Quando mencionou o meu canto novo, tive certeza de que sabia de todos os meus passos, sua mãe tinha conhecimento do seu paradeiro... Ela devia te manter informada a meu respeito, pena que o mesmo não fizeram comigo!
- Esqueci as taças! Qual a caixa? Etiquetas... Lista das caixas...
Você disse que precisávamos conversar...
Respondi no ato dando o novo endereço e aproveitando para fazer um monte de outras perguntas que ficaram sem resposta... apenas um “Ok, estarei aí às oito... levo o vinho.”
Minha cabeça fervia. Era muito boa em criar clima para encontros, mas desta vez a coisa estava complicada...
Não tinha certeza que tipo de encontro seria aquele...
De reconciliação? Apenas uma convenção? Ou simplesmente curiosidade?
Quem sabe...não sei...acho que não...
Eu questionava e eu mesma respondia...tinha sido assim nos últimos dias!
Porque será que quando não entendemos muito bem o que está acontecendo, nossa mente fica fazendo suposições? Será que ela quer voltar? Arrependeu-se de ter me deixado? Pode ser... mas porque? Alguma coisa não deu certo? O que?
- Achei as taças! Preciso dar um jeito nesse lugar!
Tinha conseguido o Loft por pura sorte, ficava em Moema bem perto do Parque do Ibirapuera.
Era amplo com uma janela que ocupava toda a parede. Um balcão de madeira separava a sala da cozinha. Um lavabo e uma escada em forma de caracol que conduzia ao mezanino onde ficava a suíte. O lugar era claro e ficaria confortável depois que fosse devidamente arrumado.
Tinha me desfeito de quase todas as nossas coisas, ficando apenas com as poltronas que foram herança da minha família, o som, a TV e alguns quadros...
Não seria mudando de endereço ou me desfazendo de móveis antigos que iria conseguir me desvencilhar dos problemas! Acreditem em mim, os problemas mudam com você! Em alguns casos, eles se multiplicam...
Não tinha a mínima condição de fazer um jantar! Comprei dois tipos de queijo, damasco seco e castanhas de caju. Até pensei em fazer um patê de iogurte com ricota, mas desisti... Estava tensa demais!
Procurei uma bandeja, coloquei as taças, os guardanapos, garfos... Ajeitei os petiscos numa tábua e deixei no balcão.
Empurrei as caixas abrindo um espaço para a poltrona ficar acessível, coloquei uma caixa como apoio e duas almofadas no chão. Precisava criar um clima...
Eu não conseguia parar de pensar em você...eu te amava tanto...queria entender...queria que você chegasse logo para poder te abraçar, estava com tantas saudades!
Separei uma lista de músicas e deixei o computador preparado.
Queria deixar tudo pronto o mais rapidamente possível e ir tomar um banho... Na verdade, eu estava muito ansiosa. Não queria que depois desse tempo todo sem nos ver, você me encontrasse de qualquer jeito. Queria estar fresca, com os cabelos cheirosos...quem sabe não seria hoje o dia em que você voltaria definitivamente para mim?
Subi rapidamente.
Ali era o único lugar que realmente estava arrumado. A cama estilo oriental com aparadores dos lados, uma armário embutido e a antiga poltrona. Faltavam apenas alguns detalhes...um abajur, um porta-retratos com a foto de alguém sorrindo feliz... 
Tirei a roupa e já ia jogar na cama...sorrindo guardei dentro do armário...
Esta cama hoje tem que estar livre de qualquer embaraço!
Debaixo do chuveiro meu corpo se arrepiou! Estava sem sentir o toque de outras mãos há tempos... Sentia saudade dos nossos momentos de paixão. Muita saudade...
Lembrei das muitas vezes que fizemos amor no chuveiro... Eu te ensaboava inteirinha... passava minhas mãos entre as suas pernas... me excitava só em te ver contorcer o corpo quando sentia que eu me aproximava. Acariciava seus seios rígidos beijando-os delicadamente enquanto minhas mãos estimulavam suas outras intimidades...
Dei um basta naqueles pensamentos! Não queria ser responsável por uma explosão de gozo solitário. Outra vez não!
Quem sabe mais tarde, eu e você não teríamos essa explosão juntas aqui mesmo?!
Terminei o banho com uma chuveirada fria!
Coloquei uma calça jeans, uma camiseta de manga comprida e tênis...esfregava os cabelos quando o interfone tocou.
Era sexta-feira, 20:00h em ponto.
- Tem uma moça aqui... Como é o seu nome dona? Escutei o porteiro perguntar, ouvindo uma voz um pouco mais distante responder: - Lia...

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