quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

365 Escrever Todo Dia 3º e 4º dia Transferindo de lá pra cá... tbt

 

3º e 4º dia (23 e 24.02.2016)





O apartamento de ZZ era bem localizado, próximo à estação do Metrô Marechal, o carro ficava mais na garagem do que nas avenidas movimentas de Sampa. Sempre que podia saía a pé, não se incomodava de andar de coletivo nem de usar os trens. Detestava apenas usa-los nas horas críticas.
Como era dona de seus horários...
Hoje havia sido uma exceção, a amiga ligou cedo pedindo ajuda, e ela não falaria não para questão de saúde!
Ainda deitada na cama, olhava pela janela o céu daquela cidade que há alguns anos a recebeu de braços e pernas abertas...
As nuvens estavam se enroscando umas nas outras de maneira a formarem um paredão cinza escuro, ZZ gostava de dias de chuva, mas nos últimos tempos qualquer chuvinha idiota inundava a cidade, o trânsito ficava pior do que o normal – se é que isso fosse possível –.
Nem adiantava sair naquela hora para tentar algum registro top. Não ia se arriscar em ruas alagadas para fotografar gente ilhada, carros inundados ou outra desgraça alheia.
Pensando bem, quem sabe a sua própria!
Colocou uma camiseta pensando em comer alguma coisa rápida, mesmo sem ter se alimentado o dia todo não sentia fome.
Colocou leite numa tigela e depois encheu com sucrilhos.
- ah agora você apareceu seu gato interesseiro, cai fora... disse sem nem se incomodar com o animal se esfregando em suas pernas.
Sorriu indo se acomodar no sofá vermelho que ficava num canto da sala, Jerry se acomodou no chão bem na sua frente e a encarou enquanto ela comia.
O apartamento tinha uma sala grande dividida em dois ambientes por um enorme biombo de madeira, do lado onde estava o sofá, ele era um painel com uma montagem de fotografias.
Era um trabalho autoral que ela havia começado há muito anos e parecia não ter pressa de termina-lo.
As fotos haviam sido tiradas por ela no decorrer da sua vida – aos dez anos ganhou sua primeira câmera fotográfica, uma polaroide, desde então, meio que sem programar, ia fotografando e separando algumas dessas fotos num envelope grande, às vezes espalhava tudo no chão e ia enquadrando, esquematizando, encaixando aqui e ali... numerava todas elas e tornava a guarda-las.
Quando viu o biombo num bazar de moveis usados, na hora visualizou seu painel de fotos nele. Pechinchou e levou o biombo para o apartamento.
Aos poucos ia completando os espaços vazios, com sempre costumava dizer – não tinha pressa – ainda havia espaço para muitas fotos, e sempre que saia para trabalhar, ficava atenta aos possíveis registros também para o seu projeto, às vezes ficava meses sem encontrar uma imagem que pudesse se encaixar na montagem... – sem problemas, ela pensava...
Além do sofá vermelho e do biombo, ficavam neste lado uma mesinha de vidro e duas poltronas com pés palito – ZZ curtia lojas de moveis usados, sempre achava alguma coisa que podia aproveitar e deixar seu apartamento bem aconchegante – nada que um estofado novo e um verniz não resolvam – ainda tinha uma escrivaninha com o computador. Na janela uma cortina de linho cru.
Depois que adotou Jerry, tirou o tapete, os vasos de plantas e colocou no lugar uma arranhador com uma cabaninha – o vaso com a palmeira raffia foi destruído em três dias!
Do outro lado do biombo, ZZ usava esporadicamente para fotos de estúdio – numa dessas suas andanças pelos bazares, ela encontrou alguns equipamentos – sombrinhas, um fundo infinito rasgado, alguns holofotes meio enferrujados e mais alguns outros apetrechos, que com uma tesoura, fita e uma lixa quase ficaram perfeitos.
Conseguiu pagar muitas mensalidades da faculdade fazendo fotos no seu estúdio improvisado.
O apartamento tinha um quarto com uma pequena varandinha, bem pequena mesmo – o vaso com a palmeira destruída a ocupava quase que totalmente, e era fechada com tela de proteção por causa do gato, mas ele nunca ficava na varanda.
Além da cama de casal, uma mesinha de cabeceira, a TV na parede, uma poltrona e um armário embutido com portas de correr.
Tinha ainda o banheiro é claro, a cozinha e uma área de serviço pequena – banheiro do Jerry.
O apartamento era alugado e o proprietário parecia simpatizar com ela, já estava há mais de 8 anos morando ali e sempre com reajustes abaixo do exigido por lei – religiosamente, todo dia 20 ela depositava o valor do aluguel sem pestanejar.
Gostava de morar ali.
Levou a tigela para a cozinha colocou-a dentro da pia. Abriu a geladeira já imaginado que ela estaria quase vazia – acertou-
Estava com preguiça de trocar de roupa, sair, ir ao mercado... estava cansada, precisava relaxar um pouco.
Procurou dentro do armário, a esteira de palha que usava para relaxar – a escondia das garras do Jerry, esticou no chão do quarto em frente a porta da varandinha, sentou com as pernas cruzadas, fechou os olhos e mentalmente começou a contar até vinte - 1...2...3...4...
Primeiro procurava ouvir sua respiração, depois os sons do apartamento, os que vinham de fora... e quando se dava conta não ouvia mais nada, sua mente estava vazia, como um pedaço de papel em branco pronto para ser desenhado...
Ao abrir os olhos, Jerry estava acocorado do lado dela - olhando-a  como entendesse o que ela fazia.
Esses minutos de silêncio faziam muito bem à ela!





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